domingo, 2 de outubro de 2011



Dia 13 de Junho de 2005

A aula da 1a série (atualmente, 2º ano do Ensino Fundamental) terminou nesse instante. Hoje foi um dia diferente! Completamente diferente dos outros dias. Veja!
Em primeiro lugar estava me recuperando, não estava muito bem de saúde e já estava fazendo duas semanas que não podia ir trabalhar. Combinei com a Diretora que ia dar a aula pela internet e só precisava de um monitor na sala. Ficou tudo acertado. Era a primeira vez que experimentava algo parecido. Não somente para as crianças iria ser uma nova, mas para mim também seria uma experiência completamente nova. Foi necessário falar por telefone com o monitor que iria ficar na sala anteriormente, já que eu não estaria na escola e, sim, em casa. Expliquei todos os detalhes para ele.
Primeiro, iríamos conversar pelo chat da Turma da Mônica e depois iríamos simular uma aula em conferência: o monitor iria ligar seu msn na escola e eu ligaria o meu em casa e ficaríamos conversando pelo msn com câmera. Tudo ficou acertado e pedi que ele organizasse os computadores para a chegada dos alunos.
Ao entrar no chat da Turma da Mônica, tivemos uma surpresa! Ele estava desativado temporariamente e fiquei imaginando como poderia rapidamente resolver tal imprevisto. Lembrei do chat infantil do Portal da Canção Nova. Liguei para o monitor e comuniquei a mudança. Logo, eles foram entrando, um por um. Dei bom dia e esperei respostas. Alguns foram escrevendo "Oi". E assim, pude vê-los tentar, adaptarem-se ao meio que exige concentração e rapidez. Alguns conseguem acompanhar, outros se intimidam ou até mesmo nada conseguem escrever.
Recebi respostas e pude fazer um breve bate-papo e vê-los tentar se comunicar através da escrita. Uma aluna, que ainda está em processo inicial de escrita, escrevia algumas coisas sem sentido e eu perguntava o que ela queria dizer e, logo em seguida, ela tentava reescrever com a ajuda do monitor. Infelizmente, a sala foi sendo visitada por outras pessoas que não sei se eram crianças ou adultos e preferi encerrar aquela seção.
Eles foram para o recreio. Quando eles voltaram, iniciamos a conversa pelo msn do monitor com a janela aumentada e exibição de câmera. Fazia parecer aula em conferência, mas infelizmente eu não tinha o retorno das crianças, somente o que o monitor escrevia. Isso me fez perder a grandiosidade desse momento, mas fiquei com a escrita e algumas imagens copiadas do computador.
Trataremos esse momento a partir de agora com o nome: conferência. A conferência só iniciou quando todas as crianças estavam em frente ao computador e monitor no teclado, próximo ao computador. Quando iniciei a exibição da câmera, foi impressionante. As crianças ficaram muito agitadas, gritavam como se eu as pudesse ouvir. O monitor ficou me informando que a gritaria foi geral. Recebi uma ligação da diretora do colégio dizendo que essa aula não estava dando certo e que sem a minha presença lá, os alunos estavam fazendo muito bagunça e gritaria no laboratório. Deu vontade de rir, mas respondi com tranqüilidade dizendo que isso fazia parte do processo. Disse-lhe que eles gritavam porque me viam através da câmera e que em breve, quando tivessem acostumados com a câmera, é que eles iriam se acalmar. Ela disse: "Ah, tá certo". Percebi a responsabilidade de desenvolver algo assim em uma sala de aula e sem a minha presença. Mas com o "tá certo", resolvi continuar e enfrentar os desafios dessa trajetória. Eles gritavam e davam tchau para mim e diziam que eu era bonita. Logo, comecei a falar do bate-papo que tiveram com a deputada Fátima Bezerra. Ao perguntar se eles gostaram, e, à medida da nossa conversa, foram se acalmando, se sentando e respondendoàs minhas perguntas. Então, lembrei do compromisso de elaborar uma sugestão de Lei para enviar a deputada. Perguntei quem havia lido o aviso entregue na sexta-feira da semana passada. Todos tinham lido. O aviso relembrava da aula de bate-papo no site do Plenarinho e solicitava que acompanhassem as notícias nos jornais da TV. Alguns tinham assistido os jornais, poucos não. Eles também tinham recebido um projeto de LEI elaborado pelo Zé Plenarinho do site da Câmara dos Deputados. O projeto falava de uma lei, proibindo as crianças de chamarem seus colegas de apelidos com vários parágrafos e até penalidades. Após a leitura do projeto, passamos a refletir juntos sobre um assunto para a nossa sugestão de lei. Solicitei ajuda do monitor para escrever separadamente a sugestão de cada aluno. Ele foi escrevendo e as sugestões foram quase todas divergentes. Ao sugerir a escolha de um assunto somente, o monitor ficou sem dar retorno da conversa entre eles e, de repente, veio a resposta do voto unânime: a violência. Elogiei a escolha e todos ficaram empolgados, segundo o monitor. Na tentativa de fechar ainda mais o campo com certo direcionamento, por fim, saiu o tema: violência nas ruas. Finalizamos a aula, e todos anotaram em suas agendas a tarefa de casa: pesquisar sobre o tema “violência nas ruas” em jornais e revistas da cidade. Isso levou o tempo de duas aulas justo.
Entrou então a 2a. série. Como essa turma acompanha esse projeto de letramento digital desde o ano passado, pareciam ter mais intimidade com todo o processo: aula de bate-papo. Quando entraram no laboratório, logo entraram na sala de bate-papo e a Lívia disse oi para mim. Perguntou como eu estava e fui conversando com ela sem dificuldades. Ela viu a presenças de seus coleguinhas e também falou com eles. Achei engraçado quando ela disse oi para o Daniel e que ele nada respondeu. Ele e o Felipe sempre se retraem quando ficam sozinhos no computador na sala de bate-papo, sempre precisam de alguém os acompanhando. Ela insistiu e pediu que o colega lhe respondesse. Ele novamente nada respondeu e ela retrucou: "Você é surdo, não está vendo eu falar com você?". Percebemos claramente que as crianças não percebem a diferença entre falar pessoalmente e conversar através da escrita, pois ao comentar se ele era surdo, ela não assimilou que está usando a escrita como meio de bate-papo e não a voz como acontece quando fala diretamente aos colegas. De repente, entram outras crianças e ela ficou um pouco perturbada com a presença deles e me perguntou: "Tia Márcia, quem é esse Lindão(nick de alguém da sala de bate-papo)?". Ele não interferiu na nossa conversa, mas preferi retirá-los dali. Fomos então para a aula conferência. Eles reagiram mais pacificamente a exibição da webcam, apesar de demonstrarem também reação positiva a ela dizendo: "Tia Márcia, a senhora está bonita". Fizemos a conferência da mesma forma que foi feita na 1a. série. Somente um deles não havia lido os avisos e o projeto de lei que haviam recebido na semana passada. Relembrei o bate-papo com a Deputada Fátima e o compromisso de enviarmos a sugestão de LEI. Eles demonstraram também animação e foram dizendo os temas que tinha escolhido. Eles escolheram violência também. Esse assunto parece ser mesmo o que mais traz problemas para todos nós. E fomos fechando o campo de abrangência e ficamos com o tema: violencia na escola. Finalizei a aula dizendo que tinha gostado daquele dia e perguntei se eles também haviam gostado. Disseram que tinham adorado. Pedi então que eles anotassem suas agendas e a escrevi na tela para anotassem. E assim terminamos nossa aula. Ao final da manhã, estava realmente cansada, mas satisfeita com o trabalho desse dia.

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